CURSO DE BATISMO ou INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ?

“Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19)

+ Estevam dos Santos Silva Filho

Bispo Auxiliar de Salvador

 

Não restava dúvida, os batizados realizados por Sr. Francisco, às margens da rodagem, periferia de minha primeira paróquia na cidade de Iguaí -BA ( 1995), eram, na declaração do meu bispo, ilícitos, porém válidos. Aconselhou-me a conhecer de perto aquela estranha prática de batizar crianças e adultos, na sexta- feira da Paixão.  O objetivo da minha visita era para retificar aquela situação. Verifiquei a idoneidade do ancião que ministrava o referido sacramento. Notório, era venerado por centenas de afilhados, um verdadeiro ícone daquela periferia.

Ao conhecê-lo, rendeu graças a Deus, semelhante ao “velho Simeão” e depois de reservar o dia da primeira celebração da Santa Missa com seus “protegidos”, disse-me, “agora que a Igreja veio até meus netos, posso partir em paz”. Surgiu neste local a comunidade São Francisco com a atuação de missionários da Pastoral de Iniciação Cristã (Pastoral do Batismo na época) que passou a ser uma prioridade na periferia.

Recordo também que nesta cidade, uma mãe com dois filhos procurou-me querendo dispensa do curso de batismo, mas ela foi tão bem acolhida que depois de três anos, fui convidado a ser padrinho de seu filho, tempo que a mesma já era uma das melhores catequistas do batismo.

Cinco anos depois, em outra paróquia (Poções), e ainda muito sensibilizado com aquela lição que me foi dada pelo Sr. Francisco, senhoras de uma área bem desassistida, demonstrando intensa vergonha, aproximaram-se de mim, expressando-se da seguinte maneira: “por que como mães solteiras não podemos batizar os nossos filhos? Pois as mulheres do curso de batismo disseram que nós não poderíamos, por não sermos casadas!”. Ao marcar um encontro com as interessadas, verifiquei pessoalmente que não eram poucas, necessitamos até de um aparelho de som para nos comunicar, e não demorou muito, um “curso de batismo” foi organizado  ali e logo uma capela, uma verdadeira comunidade foi instituída.

Sempre em férias retorno a estes lugares, e verifico a presença viva daquelas comunidades que antes eram um pequeno número de pessoas que viviam afastadas, porém hoje além de possuírem templos bem construídos, são exemplos vivos de convite à conversão pastoral que fui tendo em minha vida de pastor.

Aqui em Salvador, onde a maioria das paróquias não batizam 40 crianças por ano, na Paróquia Cristo Operário, em Castelo Branco, fomos surpreendidos por um charlatão que se apresentou na periferia fazendo-se passar por padre. O mesmo foi ajudado por seus vizinhos a alugar uma garagem e estabelecer uma verdadeira e frequentada Igreja.  Somente foi descoberto, quando os membros depois de sentirem-se lesados nas parcas economias, procuraram a Matriz da paróquia para se informarem. O falso padre desapareceu, mas a comunidade permaneceu e com boas perspectivas de futuro, pois o nosso povo tem fome e sede da Palavra de Deus.

O Diretório Litúrgico-Sacramental da nossa Arquidiocese de São Salvador da Bahia aprovado em 1º de janeiro de 2016, é um excelente revitalizador para todas as “equipes de batismos para pais e padrinhos”. Convida-nos a transformar os “cursos” em “verdadeiras equipes de Iniciação à Vida Cristã”. As indicações contidas neste diretório; conteúdo e Celebrações; Vivência e Apostolado e as indicações do Itinerário da Iniciação à Vida Cristã, são diretrizes que devem ser vistas mais como “remédios acalentadores” do que “diagnósticos desalentadores” (EG). São essenciais para uma revitalização da nossa ação evangelizadora nas secretarias paroquiais e no serviço dos catequistas envolvidos, sobretudo indicando a importante parceria com a Pastoral Familiar.

O parágrafo 17 do referido diretório diz: “Quando houver situações pastorais delicadas em relação ao padrinho e madrinha, sejam os párocos, e não as secretárias paroquiais ou outros, a buscar uma solução”. Na minha experiência de 18 anos de pároco, procurei contar sempre com casais convertidos à missão, que, tão logo eu percebia que era necessário adiar algum batismo, os encaminhava aos pais ou padrinhos que com muita “unção e atenção”, realizavam encontros normalmente nas residências, e sempre encontravam um caminho favorável de acolhimento na comunidade.

O Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Evangelli Gaudium (Alegria do Evangelho), tem insistido a considerarmos as possibilidades e não nos desesperarmos com as dificuldades no cotidiano na nossa ação evangelizadora. (EG 49). A Catequese da Arquidiocese já prepara encontros para auxiliar a revitalização destes “cursos” nas diversas paróquias. Acredito que seja urgente a atenção de todos à proposta de um verdadeiro caminho de conversão pastoral, a todos nós, pastores e leigos, para darmos pleno cumprimento ao mandato de Jesus: “todo poder me foi dado (…). Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).