Fake news

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

Numa recente mensagem pelo Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco destacou a necessidade de cultivarmos uma comunicação verdadeira, à luz da afirmação de Jesus: “A verdade vos tornará livres”. Em oposição a isso, chamou nossa atenção para o perigo das “fakenews” – isto é, das notícias falsas. Essa expressão inglesase popularizou mundialmente a partir da última campanha presidencial dos Estados Unidos, em novembro de 2016.

É próprio do ser humano comunicar-se. A linguagem gera comunhão, participação e amor. O ser humano é a única criatura que tem a capacidade de expressar e comunicar o que é verdadeiro, belo e bom. Mas, dada a sua liberdade, é também o único ser capaz de mentir e de apresentar a mentira com uma aparência de verdade.

Em nosso tempo, marcado pela força das redes sociais, assistimos a um fenômeno que chega nos surpreender: também a mentira e as informações infundadas são transmitidas “on-line”, rapidamente. Assim, “dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até a manipular o destinatário”, são divulgados com objetivos prefixados – geralmente para influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos.

A força das “fakenews” deve-se, antes de tudo, à sua capacidade de se apresentar como plausíveis. “Falsas, mas verossímeis, tais notícias são capciosas, no sentido de que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio de um certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração”.

Nem sempre é fácil desvendar ou erradicar as “fakenews”, pois isso exige atenção, verificação e confronto com as fontes. Como tais notícias parecem verdadeiras, não poucos simplesmente as repassam para seus grupos, que as repassarão para outros grupos… Pior quando tais notícias falsas são fruto da intolerância, do ódio ou da inveja, pois reputações são destruídas, sem que a pessoa tenha as mínimas condições de se defender.

Precisamos desenvolver a capacidade de discernimento. Educar para a verdade significa ensinar a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não sermos disseminadores da mentira. O escritor russo Dostoevskijescreveu a esse respeito: “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a ponto de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter a estima de si mesmo e a dos outros” (Os irmãos Karamazov, II, 2).

Nossa vida deve ser conduzida pela busca da verdade, pois só ela nos liberta. Se isso vale sempre, mais ainda deve ser levado em conta em um ano como este, de eleições presidenciais. Que tal, pois, assumirmos o compromisso de não repassar “fakenews”?…