No dia de Corpus Christi, Jesus me levou pelas ruas da cidade…
Dom Estevam dos Santos Silva Filho
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Salvador
No dia de Corpus Christi (22 de junho de 2011) na paróquia Nossa Senhora das Candeias, em Vitória da Conquista, da qual era pároco, logo após a comunhão iniciamos nossa procissão. Havíamos decidido levar o Santíssimo Sacramento em um carro devidamente preparado e ornamentado para este precioso trajeto. Já havíamos antecipado que todos participariam da procissão de carro (Carreata) utilizando pisca-aleta, buzinas e carro de som. E assim o fizemos.
Em um carro coberto com um formoso tecido chamado pálio, segurava sobre a mesa ornamentada o ostensório com o Santíssimo Corpo do Senhor. Fiquei o mais discreto possível para não permitir que com aquelas vestes e capas brilhosas ofuscasse o esplendor da simplicidade de Jesus Cristo, ali disfarçado de Pão. E assim procurei fazer.
A mesa era larga e na ponta um refletor para iluminar a Jesus, o grande sol. Precisava esticar bem os braços, pois teria que segurar firme o Senhor. Ao passar por quase toda paróquia (prédios, supermercados, condomínios, faculdades, academias, colégios, clubes, etc e etc), percebi que na verdade não era eu quem segurava e levava o Senhor, mas, era Ele quem ia esticando meus braços e minhas mãos e nos conduzia para que percebêssemos melhor aquele populoso bairro. Assim procurei contemplar o que Ele ia me mostrando.
Detalhes eu ia visualizando, parecia que era urgente o que o Cristo queria me mostrar. Mostrou-me prédios populosos com poucas janelas com lâmpadas acesas, talvez por estarem sem habitantes ou porque os mesmos já cansados, não possuíam motivos para acenderem a luz. Vi luzes que também foram acesas e pessoas tímidas e curiosas tentando entender o que se passava. Desta maneira olhares iam se dirigindo para o “Santíssimo Móvel”, se assim me permitem chamar.
Pessoas andando, interessante, várias “se benzendo”, outras com discretos olhares. Tenho que admitir que mesmo de dentro dos bares ou restaurantes não vi nenhum desrespeito, no máximo uma displicência de quem mesmo entendendo que passava o sagrado, já não sabiam como manifestar o seu devotamento com genuflexões ou constantes vênias. Eram pessoas abandonadas pela Matriz que eu via pelas calçadas.
A cidade não parecia que era desconhecida para Jesus. Ele parecia me apresentar aquele bairro como se já o conhecesse e nessa região quisesse visitar a todos. Um cortejo com dezenas de carro pareciam que recebiam o combustível do ostensório. Ele, quem sabe, querendo dizer a todos os cristãos motoristas (a maioria eram leigos engajados): “olhem meus desengajados, eles também são meus”. Vejam, parecia nos dizer: “os que não estão na procissão ou não acenderam as luzes eles são batizados, saibam que eu também estou com eles, porque vocês não vão me procurar lá também? Não foram eles que se esqueceram desta procissãomas, os organizadores desta procissão que se esqueceram deles, por isso estou mostrando para vocês”. Assim, Ele nos mostrava e nos falava pelo caminho.
É na cidade que moram as pessoas, é nas pessoas que mora Cristo, é lá que Ele se encontra e foi para lá que Ele nos levou. Ao chegar ao destino final, a capela das Irmãs Sacramentinas, tapete e sineta somaram-se a pequena caminhada até ao Tabernáculo. Ali receberam a bênção quem estava presente, mas, certamente a bênção se estendeu a quem mesmo distante, Cristo Eucarístico neles estava presente.
Eu vos conheço, vocês são meus, vou tentar despertar meus padres, meu povo e minha Igreja para me levar a vocês. Todos vocês e a cidade toda são minhas ovelhas, um dia meus discípulos abrirão os olhos para a missão, entenderão que a ordem querida e sonhada por mim foi: TOMAI TODOS E COMEI…
Ele nos levou pelas ruas e avenidas daquele bairro e chamou a todos de amigos e nos deu a conhecer a imensidão de nossa missão… Vamos retornar a cidade, é para lá que Cristo se dirige! Foi nestas ruas que Ele puxando-nos pelas mãos nos mostrou a cidade e nos questionou sobre a missão. Vamos agora levá-lo ao povo da cidade, pois percebi que, não foram eles que se afastaram da Igreja, mas, a Igreja que se afastou dos que estavam ausentes…